domingo, 9 de agosto de 2009

ideiando meu pai, pelo Dia dos Pais


Tenho saudades do meu pai, embora nossa relação sempre tenha sido bastante conflituosa. Um dos únicos abraços de que me lembro foi no dia do meu casamento, na porta da igreja, pois ele não era chegado a carinhos.
Aos 67 anos teve um derrame, que deixou sérias sequelas, ficando por 15 anos quase sem caminhar e depois muito dependente.
Faleceu velhinho, debilitado pela longa doença.
O trecho abaixo, estou transcrevendo a partir das minhas anotações de setembro de 2001, quando fiquei sozinha com ele, no quarto dele, na casa dele, num raro momento de intimidade. Eu ao seu lado e ele deitado, num silencio profundo cheio de significados.
Tão profundo quanto a distancia que tínhamos entre nossos corações.


“Agora que está velhinho e débil, precisando de ajuda, tenho acesso às suas mãos, macias e enrugadas, uma defeituosa e outra perfeita. Aliso seus dedos bonitos, suas unhas parelhas, enquanto toca “We Are Friends” no radinho de pilha ao lado da cama, em seu quarto. É noite de sábado, chove muito lá fora e estamos sós, pois a mãe foi buscar um remédio novo que o médico receitou, remédio esse que controlará os “pensamentos mágicos”.
São momentos de graça e absurdo, pois estamos vivendo uma dualidade de passado e presente em instantes, ele em dois momentos de vida diferentes, alternando presente e ilusão, e eu avaliando o que foi nossa relação pai-filha, analisando os porquês sem respostas.
O tempo fica como que congelado. Ele está fora do ar e eu também.
Resta apenas o meu suspiro.”

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